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Vanitas, Pieter Claeszoon |
Autor: Mathew
Por fora tudo está tão bem, ou pelo menos estava há alguns dias atrás, Agora só sobrou o cinismo no canto direito da boca. Um sorriso de escarnio. Velho avarento, nem na morte conseguiu se livrar do seu maldito jeito de olhar para as coisas. "Lembre-se de que morrerás" era oque eu dizia para ele, pra variar ele nunca ouviu, ou ouvia e fingia demência. Bem capaz.
Quando eu era pequeno, corria pelos bosques do interior de São Paulo, corria inconsequentemente. Mas minha alegria não durava muito, pois assim que ele regressava para casa, bêbado, me descia o cacete com o velho amolador de navalha, eu nada fazia, não havia oque fazer. Naqueles dias de Janeiro tudo era escuro, sem esperanças, sem perspectivas de melhora. mas de uma coisa eu sabia, ele iria me arrebentar, mesmo se eu fizesse tudo direito ele iria achar uma maldita agulha no palheiro. Hoje não me bate mais.
Levava uma vida miserável. Desempregado, ele enchia a cara todos os dias e achava nela mesma uma desculpa pra ficar valente e descer o cacete em todos que podia, achando-se imortal. um deus vivo. Em tudo ele tinha razão. Desde assuntos banais como politica, até coisas mais sérias como futebol. Levava uma vida metódica, tudo era do seu jeito. mas mal sabia que morria lentamente.
Maldito, nunca foi um pai para mim, nunca pagou uma cueca minha nesses meus onze anos. O mundo com certeza está melhor sem ele. Mas vamos direto ao assunto. Como ele morreu? Foi esfaqueado. A policia não encontrou o assassino, e nunca encontrarão, não enquanto eu viver. Na verdade isso não importa. Nada mais importa. Meu pai morreu.
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