Funeral


    


A DÚVIDA DE TOMÉ, CARAVAGGIO



 Autor: Mathew


Eu estava na esquina do Picanço, chamado assim o cemitério do bairro. Papai morreu. Morreu em um acidente de carro, enquanto dirigia bêbado, deixou mais duas pessoas feridas. Ele era assim mesmo, totalmente inconsequente. Ele abandonou a mim e minha mãe quando eu tinha três, ou seja, nunca esteve presente e quando estava era pra te deixar pra baixo.

Só eu estou indo ao funeral dele, quer dizer eu e a família dele, que por sinal devem ter esquecido da minha existência. Estarão lá minha tia Ester, seu marido Junior e seus filhos, Neto e Isadora. Meus avos morreram quando eu ainda era muito novo. Odeio todos eles.

Chego na hora do enterro e o padre acha oportuno me pedir para falar algumas palavras de respeito. Mas o que vou dizer, que ele me descia o cacete quando tinha oportunidade, que ele nunca pagou pensão alguma, que ele sempre que podia ia pro bar encher a cara e depois, quando regressava pra casa, batia nã minha mãe. Não, eles não querem ouvir isso. Então digo baixo, quase inaudível “aqui se faz, aqui se paga”, e todos presentes dizem “amém”. E então o show acaba.

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