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O Jardim de San Miniato perto de Florença, John Ruskin |
Autor: Mathew
Imagine um cara acabado, de ressaca e partindo de manhã para o trabalho. Era assim que eu me sentia. A noite passada havia sido uma loucura, Roberto foi lá pra casa, a gente transou adoidado, recitamos poesias de Charles Baudelaire e Artur Rimbaud, discutíamos alto sobre as implicações filosóficas da Art nouveau, em um tom de briga, porém estávamos totalmente anestesiados com o prazer da companhia de um para o outro.
Quando acordei passei a acreditar que tudo não passou de um sonho, e que todas as palavras trocadas foram ao vento. Em vão. Se não fosse pela frase pintada a corretivo branco na parede azul de minha casa: Quid latine dictum sit, altum sonatur, ou seja, Tudo que é dito em latim soa profundo. Essa frase ele pintou enquanto eu dava a maior mijada da minha vida, quando voltei a sala vi aquilo e cai em gargalhada. Ele dizia que tudo que fizermos, será inútil, mas que precisávamos fazer, ele só parafraseava Gandhi. Ele era na verdade um grande oportunista.
Chego no trabalho e lá está ele, em sua mesa, com uma aparência intocável. imaculado, em relação à ontem a noite. Vou pra falar com ele e ele me destrata, como se eu nunca tivesse feito parte da vida dele. Ele foi o maior filho da puta. Daí em diante eu entendi qual era o papel da nossa relação na sociedade, o de colegas e apenas isso. No final do expediente ele me procura e se desculpa pela sua atitude de babaca, e me convida para ir para sua casa desta vez, e é claro que vou.
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