Três da madruga

Les Demoiselles d'Avignon, Pablo Picasso

Autor: Mathew

Acordo. Olho em meu relógio. Três da madruga. Onde estou. Estou pelado? Acho que não. Engraçado, eu estou andando. Paro. Olho para meus pés. Descalços. Sangrando. Doí muito. Giro em torno do meu eixo e recomeço a andar. Para onde estou voltando? Não sei. Tente se recordar, pensei. Lembro da festa de aniversario da minha tia. Lembro de ter bebido. Então é isso. Bebi demais.

Aquela festa estava um porre com  “P” maiúsculo. Minha tia estava fazendo quarenta e nove anos, a beira dos cinquenta. Aquilo me forçava a pensar o quanto eu gostava de mim mesmo. Me forçava a pensar se eu estava no caminho certo, e se existia um caminho certo. Eu estava bem reflexivo. Passou o primeiro, peguei a primeira breja. Quando me dei conta já havia passado o trigésimo garçom e eu tomando a trigésima cerveja. Era ruim de pensar na minha existência. Pensando que eu era apenas um acidente da matéria e que não existe proposito maior em minha vida, era meio cínico pensar daquela forma, mas fazer o que.

Lembro me de sair da casa dela e partir andando para a minha casa, que não era tão longe, mas no caminho encontrei a porra de um puteiro, olhei em meus bolsos e lá se achava cinquenta paus, e pensei “porque não?”. Entrei no puteiro e lá avistei uma moça, bonita, linda. Uma loira com peitos enormes e um chapéu de caubói, dois gorilas me encararam, então ela proferiu:

- vou fazer o que você mais gosta gatinho?

- vai fazer torresmo?

A moça riu mas eles não, um dos gorilas disse:

- Vai ficar de gracinha?

- E se eu quiser ficar de gracinha?

- Então o senhor vai ter que se retirar.

- Encosta um dedo em mim, que você vai ver estrelas, seu puto!

Depois disso, fui apagado, e não lembro mais de porra nenhuma, só sei que acordei andando pela interestadual, sem sapato e sem dinheiro, e depois de tudo isso ainda pensei, “puta merda, aquele era os meus últimos cinquenta paus, sexo não vale a pena mesmo!”

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