Angústia

 

Pedro Emmanuel

Estamos vivos? Não cara, não falo dessas baboseiras existencialistas, baboseiras que quase nunca usamos na vida prática; o que seria de Sartre se deixasse de ser babaca? Estamos vivos? Estou falando de nós, ou melhor, a maioria de nós, discursando sobre a própria mediocridade, se é que faz diferença. Mortos-vivos, hipócritas e drogados, prostitutas e os próprios vendidos, os que estão abaixo da linha moral e do padrão social. Estão vivos? Todos estão vivos? Quer dizer, será que realmente se apegam à existência humana? Existência. Ressalto que jogamos, cheiramos, e usamos tudo o que nos ofereceram em busca do prazer, mas nada foi tão prazeroso quanto àquela tarde que passamos olhando o pôr do Sol. Discutimos sobre assuntos banais; contas a pagar, chefes filhos-da-puta, e amigos maquiavélicos. E sem parar você me perguntava: Pra que tudo isso, cara? Digo agora que não sei. Não sei o que sinto. Não sei do que falo, penso, como, uso, cheiro, abuso, roubo, exploro; não sei nem mesmo o que escrevo.  Talvez, o fato de sermos moralistas, e o fato que sempre fomos e sempre seremos, ressalta ainda mais a nossa bondade escarniada; coberta de sangue pisado e feridas purulentas. E num relance de surto (Zolpidem com Vodka, sem limão e nem gelo... Um beijo, Caio), passei a considerar sagrado, toda e qualquer demonstração de angústia. Que no final de tudo, é o princípio e o fim da nossa possível existência.

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