Pedro Emmanuel
Atento aos detalhes. No meu canto. Num churrasco. De família, sabe como é. Faixas e fitas escolhidas à dedo. Nada aleatório. Nem pessoas, amigos e seus figurinos e papéis atuados que se espera de uma festa. Pequena. Originalidade se põe em prática. Echarpes e lenços. Dos mais diversos, dos mais variados e dos mais coloridos. Desavenças. Buchichos e fofocas. Apontam com os dedos cobertos de queijo gorgonzola. Fedem à escárnio caricato e perfume francês. Algum desses de Le Pierre ou Mademoiselle Simone. Esperam a hora certa de rir das piadas, já manjadas, do Titio Lalau, ou sei lá o que. Fui convidado pela minha amiga. É, a família é dela. Deslocado. Ela deve estar afim de mim. Não sei. Nunca sei. Espero que na hora, eu saiba. Busquei no armário de bebidas algum uísque ou qualquer bebida cara. Estava decidido. Passei a mão no primeiro que vi e, discretamente, me mandei pela porta da sala. Ninguém notou, estavam deveras entretidos no papo de como o bairro em que estávamos decaía de nível. Sabe como é, aquele velho papo de como a classe D e E, ou até mesmo aquela que ninguém dava a mínima, acendiam no maravilhoso capitalismo tupiniquim. Um porre. Entrei apressado no elevador e, em instantes, alcançaria a liberdade. Ganhei as ruas e as calçadas do Jardins. Alcancei o maço e acendi o último cigarro. E enquanto riscava meu isqueiro "tippo zipo", cantarolava Elis... cantarolava que Viver é melhor que sonhar.
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